domingo, fevereiro 13, 2005

O frustrante dilema do FBI

Como fazer falar os suspeitos sem os torturar é a questão que se coloca à polícia federal americana
O FBI enfrenta neste momento um dilema: os seus agentes não conseguem arrancar informações aos principais suspeitos dos atentados do 11 de Setembro e a lei limita os seus métodos de interrogatório, mesmo que evitem novos ataques.
É "o núcleo duro": são quatro suspeitos principais que sobressaem de um universo das 150 pessoas que se encontram actualmente em detenção, no quadro dos atentados, e que se recusam a cooperar com os investigadores.
A legislação americana diz que é inválida em tribunal toda a informação obtida sob coacção física durante o interrogatório. Um agente que use métodos "musculados" no quadro do seu trabalho pode ser responsabilizado na justiça pelas vítimas ou pelas próprias autoridades.
"É verdade que esta situação causa alguma frustração junto dos inquiridores", diz Peter Crooks, ex-agente do FBI especializado na luta anti-terrorista. Mas, em nenhum caso, tal pode levar o FBI a recorrer à violência. "O dilema existe: os direitos individuais e os interesses da segurança nacional. Mas nós conhecemos a resposta - os direitos individuais são mais importantes que a segurança nacional", diz.
Na opinião de Crooks, com o recurso à violência sobre os suspeitos arrisca-se comprometer fatalmente a confiança da população no FBI, impedindo-a de colaborar com os seus agentes. De facto, os inquiridores dispõem de meios para "fazer falar os suspeitos".
"Um interrogatório cuidadosamente escolhido, com calma, durante um período prolongado, dará melhores resultados" do que o exercício de pressão sobre o indivíduo, explica Anthony Cordesman, especialista do FBI no Centro de Estratégico e Estudos Internacionais. Em seu entender, mais que os métodos "musculados", o FBI assiste a um alargamento dos seus métodos de vigilância com o aumento das suas capacidade de submeter o seu suspeito a escutas, como prevê a legislação antiterrorista que será aprovada pelo Congresso.
O professor Robert Jervis, especialista da luta antiterrorista na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, afirma que a pressão sobre os suspeitos pode justificar-se em caso de guerra, como foi o caso da França durante a guerra com a Argélia ou em Israel, contra os palestinianos. "É preciso ter muito boas razões para crer que o suspeito sabe onde será colocada a próxima bomba", afirma. Mas, acrescenta, "a opinião pública americana nunca permitirá que os agentes usem estes métodos e isso seria um desastre para o FBI".
Segundo o "Washington Post", os principais suspeitos que se recusam a falar são Zacarias Moussaoui, Ayoub Ali Khan, Nabil Marabh e Mohammed Jawid Azmath.

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